O mundo mudou! A tecnologia atuando no mundo das relações é fato. Entretanto, é inegável que com o desenvolvimento das tecnologias e as facilidades nos contatos e relacionamentos virtuais a vida ficou mais exposta e a privacidade menos segura. Com isso também cresce a ansiedade e a desconfiança, e diminui o diálogo entre as pessoas. O fato de se poder acessar por meio do celular, a qualquer instante, as redes sociais e os conteúdos postados, criou-se a ilusão de tudo saber, de se conhecer a verdade absoluta sobre o que acontece na vida e em seu próprio relacionamento.
Com essa nova realidade, entendemos que da mesma forma que tecnologia traz facilidades que aproxima quem esta distante, também pode afastar os que estão próximos e diminuir a frequência e qualidade da comunicação. Este fato dificulta o diálogo podendo levar a um distanciamento, e com isso contribuir para dificuldades de interação e consequente separação. No consultório nos deparamos com conflitos vinculados aos aparelhos pessoais de mídia, principalmente o celular. Os contatos e recados lidos no celular do outro levam a interpretações distorcidas. Um tenta interpretar o significado do recado que o outro recebe de colegas de trabalho ou de pessoas que fazem parte tão somente do universo de quem recebe a mensagem, a partir de uma percepção unilateral sem ter total conhecimento do que significa no contexto de quem a recebeu. Há também pessoas que se permitem viver outros relacionamentos e ser infiel, utilizando-se dessas facilidades para trocar mensagem, criar um jogo de sedução sexual virtual, ou até passar a encontros pessoais. Assim sendo, a tecnologia que está disponível para facilitar a vida das pessoas, passa ser motivo de discórdia, geradora de fantasias, insegurança e falta de confiança. E a comunicação que deveria ser a base para a resolução de problemas ou de entendimento do que se passa no relacionamento a dois, passa a ser baseada em cobranças, por meio de brigas e desentendimentos, onde a invasão da privacidade impede o diálogo, pois ambos estão tomados de raiva e magoa, e consequente dificuldade em ouvir atentamente o outro para assim poder clarear o verdadeiro motivo do relacionamento estar tão conflituoso. Embora a troca de mensagens se apresente como uma forma mais fácil e rápida de interação do que a fala olho no olho, acaba sendo a de maior dificuldade de compreensão, pois se fundamenta na interpretação embasada nas crenças e visão de mundo de cada um. Já no olho no olho toma-se mais cuidado com o uso de palavras e permite outras mensagens expressas pelo não dito, além da palavra que por si só não dá conta da subjetividade e dos sentimentos contidos na comunicação. Em nossa realidade profissional, necessitamos às vezes de muitas sessões de terapias de casal para que um se disponha a ouvir o outro de forma empática, disposto a compreender a partir da realidade do outro, abertos ao diálogo, ao cuidado e a generosidade.
Portanto, não existe uma regra para o que deve ou não ser feito com o uso da tecnologia para aproximar pessoas, facilitar suas vidas, ou resolver os desentendimentos nas relações, visto que não é o computador nem o celular o responsável pelas facilidades ou dificuldades nos relacionamentos, e sim a maneira com que cada um se dispõe a estar com o outro. E principalmente, em que pilares cada um constrói a ponte que o liga ao outro, se na confiança, fidelidade, amor, ou em seus contrário. Contudo, quando a pessoa se depara com suas inseguranças e/ou a vida a dois corre risco ou está abalada, sempre é possível buscar terapia como ajuda para o entendimento de si mesma, da relação e do outro, por meio do amor e respeito, para que a tecnologia possa ser um auxílio e não uma ameaça para seu relacionamento ou sua integridade.
Psicóloga – Terapeuta Familiar e de Casal
Noemi Paulina Cappellesso Finkler Noemi
CRP 08/03539
Psicóloga – Terapeuta Familiar e de Casal
Elisa Mara Ribeiro da Silva
CRP 08/03543