A Vida pelo Prisma da Arte

A vida pode ser analisada como uma obra de arte em constante construção subjetiva e coletiva, em que cada pessoa ao tocar o outro, pelo olhar, gestos e atitudes deixam e levam marcas e impressões. Esta obra de arte possui as mais diversas cores, texturas, formas e traços. Algumas marcas e impressões podem ser permanentes e ter destaque, já outras podem ser sutis, quase invisíveis e outras ainda podem ser como fundo ou como base, não aparecem, mas todas compõem essa obra de arte inacabada que é você. E aí, saberia responder: Que obra de arte sou eu?

Viver é uma construção diária em que influenciamos e somos influenciado numa rede de trocas constantes. Realmente, viver é uma arte. Alguns dias, ao analisar internamente nossa tela podemos ter diversas sensações, de dor, sofrimento, angústia, desesperança e até desespero, muitas vezes, o dono da tela tem vontade de rasga-la, jogar tinta para encobrir o que aparece, esconder e sessar a luz, pois lhe parece difícil e sem graça a contemplação. Ao observar tem a percepção de si como uma obra acabada, não enxerga possibilidade de fazer algo, talvez  por não compreender que ele mesmo pode produzir e trabalhar nessa obra, pois também tem os instrumentos, como o pincel, a espátula ou simplesmente as mãos. Muitas vezes também não consegue permitir que outro artista se aproxime e o toque.

Estar vivo é por a própria obra em exposição, e uma obra uma vez exposta possibilita ser capturada por olhares, pincelada de cores e manuseada, e até arriscar-se dar ou receber um toque para transformações, ao ser exposta pode manter a lembrança no imaginário de algum merchand que busca por ela, pois alguma especificidade dessa obra mantém ou desperta o interesse e a admiração. De todo modo cabe ao dono da obra ou as pessoas mais próximas ter a sensibilidade de perceber e fazer a escolha possível naquele momento de vida.

Falar de vida é também falar de transtornos que acometem uma grande parte das pessoas e por vezes não são diagnosticadas e tratadas adequadamente. Pensamos nesta metáfora para trazer a luz um pouco sobre o transtorno depressivo. Pessoas que sofrem desse transtorno normalmente se fecham para o outro, têm sua visão de mundo monocromática, não conseguem ver sozinhos as possibilidades de reorganizar novos caminhos ou recursos para sair deste sofrimento tão intenso. Com dificuldade em pedir ajuda e buscar tratamento, o depressivo desacredita ser possível aliviar o que sente, pois depois de algumas tentativas normalmente sente-se impotente e acredita que sair de cena pode ser uma solução. Avaliar e aliviar os sintomas presentes, tais como tristeza, angústia, irritabilidade, cansaço, desanimo se faz necessário para o andamento de um tratamento, mas para tanto, é necessário conhecer os recursos emocionais existentes, coisas e/ou pessoas com vínculos que são importantes ao sujeito para indicar a linha de tratamento.

Refletir sobre a depressão nos fez utilizar a metáfora da arte relacionada as muitas vidas que nós, psicoterapeutas, nos dispomos a contemplar junto com nossos pacientes e seus familiares objetivando analisar cada detalhe da história como uma obra de arte coletiva subjetiva e inacabada. O processo de psicoterapia possibilita a sabedoria, do que pode buscar para permitir  que os sintomas diminuam e a transformação aconteça, a partir da análise  do que causou cada artista, que por sua obra passou e com que sentimento fez as marcas, visíveis ou invisíveis, conscientes ou inconscientes, lembrando sempre que cada um tem seus recursos e seus desejos para continuar sua obra, basta que busque o profissional adequado para dar seu toque que possibilite a transformação. Independente do que consiga responder sobre qual obra de arte você é, perceba o quanto ela é abstrata e única e ela só estará acabada, sem possibilidade de mudanças e retoques,  com o fim da vida.

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